INHAME – A RAIZ AFRICANA

16/07/2015 11:16
 O inhame, assim como o azeite de dendê, é um ingrediente procedente do continente africano, e por isso é conhecido como um produto “da costa”. Esta região compreende o Golfo do Benin, também conhecida como Costa dos Escravos, Costa da Malagueta, Costa dos Grãos, Costa do Ouro. Nesta costa estão os Iorubá-Nagô, povos conformadores dos patrimônios culturais do Nordeste, em especial, da Bahia.

A Comida da Criação do Mundo

   Diz um itã (lenda) que Obatalá – o rei maior – crio o mundo e precisava frutificar a terra; assim, escolheu Okô, o primeiro agricultor, o primeiro que plantou isu (inhame). Por isso, há o tradicional dizer ioruba: Ba ni je enia Okô (“Se alguém trabalhar perto de Okô, na roça, encontrará o que comer”).

   E o inhame, raiz tuberosa da família das aráceas, está integrado ao imaginário da criação do mundo para os Iorubá, bem como às tradições religiosas Iorubá-Nagô no Brasil.

   O inhame simboliza a criação e a fertilidade, e identifica os orixás mais antigos, chamados fun-fun.

   O formato fálico do inhame cria um sentido simbólico de multiplicação dos alimentos na terra e da capacidade de procriação do homem. Por isso, as festas do inhame ocorrem na primavera, para representar um permanente renascimento.

 

Na Liturgia das Comunidades de Terreiro e no dia a dia

Por representar a fertilidade, o inhame integra vários pratos dedicados a diferentes orixás. O orixá Ogum, também agricultor e caçador, gosta do inhame assado e coberto com azeite de dendê, ou mesmo cru. O peté ou ipeté, comida ritual do orixá Oxum, é feito com inhame cozido, acrescido de camarões, cebola  e azeite de dendê. Para os orixás gêmeos – Ibejis, temos o inhame cozido em água e sal que, juntamente com feijões cozidos no azeite de dendê, milho branco cozido, pedaços de coco seco e carne temperada de aves, formam uma de suas comidas rituais.

   O inhame compõe esses, e vários outros, cardápios consumidos como parte das liturgias nas comunidades de terreiro. Ao mesmo tempo, é um ingrediente básico dos pratos do dia a dia, juntamente com a macaxeira, a farinha de mandioca, o jerimum, entre tantos outros que dão identidade à mesa nacional.